Dossier "Descrever a Cidade", Ler História nº52


Em 2007, o número 52 da revista Ler História publicou o dossier “Descrever a Cidade”, com artigos de Frédéric Vidal, Graça Índias Cordeiro, João Pedro Silva Nunes e Tiago Baptista. Este dossier retoma as comunicações apresentadas do XVI encontro da Associações Portuguesa de História Económica e Social (APHES) nos Açores.
Extracto da apresentação por Frédéric Vidal:
“Os textos ou documentos seleccionados referem-se a temas bastante variados mas dão a ver processos semelhantes. Estes discursos sobre a cidade aparecem sempre como tentativas de organização e de apropriação de um fenómeno tão plural e complexo como é o fenómeno urbano na época contemporânea. Podemos prolongar a análise sublinhando que encontramos aqui efeitos similares das descrições ou, pelo menos, influências comparáveis. Destacam-se três aspectos. Primeiro a dimensão propriamente espacial do fenómeno urbano. As descrições contribuem para o ordenamento do espaço urbano, identificando e valorizando hábitos específicos e estabelecendo distinções simbólicas ou de uso. As ruas dos roteiros, o centro da cidade definido pela presença de cinema de estreia são categorias espaciais que passam a ser de uso corrente. O segundo toca nas definições do que Graça Índias Cordeiro chama «a urbanidade de Lisboa». Existe aí de facto a sensação de uma especificidade do caso da capital portuguesa. A relação com a história e com os tempos passados ou, pelo contrário, com a modernidade, teria sido problemática. Por outro lado, as descrições aqui analisadas testemunham também a circulação internacional de modelos geralmente ligados à noção de progresso ou de modernização: os roteiros lisboetas inspiram-se directamente nos modelos parisienses e londrinos; nos relatos de sessão de cinema, a cidade reveste-se de um certo cosmopolitismo ou, pelo menos, são-lhe reconhecidos alguns atributos das grandes metrópoles europeias. Esta tensão entre a resistência à mudança e as tentativas de adaptação e de acompanhamento das mesmas parece ser um eixo de análise promissor. Por fim, as descrições são também categorias de acção. O exemplo dos «dormitórios» é aqui particularmente ilustrativo. Utilizando as palavras de João Pedro Nunes, as descrições contribuem para «formar conhecimento sobre o território» e para «capacitar a intervenção dos poderes públicos e para influenciar decisões politicas». Os quatro estudos aqui apresentados permitem acompanhar momentos relevantes e bem identificados da história de Lisboa. Contudo, encontramos também propostas de enquadramento geral da evolução das sociedades urbanas contemporâneas, que focam a dimensão espacial, os confrontos entre diferentes temporalidades e os modos de intervenção de actores específicos. Jogando entre o geral e o particular e conservando sempre um carácter sintético, as descrições aparecem como objectos de análise particularmente ricos para a história urbana.”

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