THALE, Christopher, The Informal World of Police Patrol: New York City in the Early Twentieth Century, in Journal of Urban History, 33-2, Jan 2007

Nos últimos anos os historiadores têm vindo a descobrir a patrulha policial como objecto de estudo. Três perspectivas têm sobressaído. Uma, mais ligada à história política, analisa a patrulha como momento de aferição prática das regulamentações legais, avaliando a capacidade real do Estado em intervir na sociedade. Outra perspectiva, no âmbito da história do trabalho, tenta compreender as estratégias da patrulha policial, especialmente a incorporação de procedimentos burocráticos e dispositivos tecnológicos como factores uniformizadores desta prática. Finalmente, influenciada pelo olhar sociológico e antropológico, a terceira perspectiva analisa a patrulha através da inserção do polícia no contexto social patrulhado. É nesta última que este artigo se insere.
A primeira qualidade deste artigo está nas fontes utilizadas. O uso sistemático de registos disciplinares é uma originalidade nesta área de estudos. A descrição das situações em que os polícias eram castigados, as alegações dos polícias, e a classificação das penas aplicadas possibilitou um retrato rico do patrulheiro nas primeiras décadas do século XX em Nova Iorque.
O autor sustenta que as especificidades do trabalho policial conduziram a uma inserção do polícia nas redes sociais dos bairros, elemento central na definição do mandato policial. Estas relações, baseadas em trocas de recursos e interesses comuns, são neste artigo analisadas como a essência do policiamento. Ao longo do artigo são analisados diferentes tipos de relacionamento, por exemplo com o rapazio que andava pelas ruas ou com os habitantes das esquinas, sempre tentando compreender a dualidade (punição / colaboração) inerente a estas relações. No entanto, o autor dá especial relevância aos encontros e relações entre polícias, donos de lojas e porteiros. Nestes casos, mais que nos anteriores, existia uma reciprocidade de recursos e interesses. Ao polícia interessava ter uma casa de banho onde fazer as necessidades, um canto onde pudesse dormir um pouco, uma sopa quente ou simplesmente um tecto para abrigar-se da chuva. Aos porteiros, mas especialmente aos donos das lojas, interessava ter um ambiente ordeiro, sem rufias ou mendigos a provocar desordens, sem roubos, sem vidros partidos, e sobretudo ter um polícia que não fosse muito rigoroso no cumprimento de certas leis. Como o autor conclui, os polícias eram nestas situações vistos como aliados. O que o artigo explora pouco é a dimensão conflitual que existia mesmo nestes dois casos, mormente a aplicação das posturas municipais (city ordinances) que obrigavam, por exemplo, os lojistas a desobstruir os passeios.No geral, os polícias eram pessoas faladoras, sempre prontas para uma boa conversa sobre desporto ou política, com quem a maioria dos habitantes da cidade tinha pouco ou nenhum contacto. No entanto, através do conhecimento mais ou menos profundo da rua, um saber categorizado e muitas vezes estereotipado, o polícia ia solucionando circunstancialmente os problemas quotidianos da cidade, mas também os seus próprios problemas.
Por Gonçalo Rocha Gonçalves

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