“Descrever a Cidade”, Painel APHES

No âmbito do XXVI Encontro da APHES, em Ponta Delgada, entre 17 e 18 de Novembro de 2006, foi apresentado um Painel intitulado “Descrever a cidade. Lisboa, séc. XIX e XX”, organizado por Frédéric Vidal. Está em preparação a publicação das actas em “dossier temático” na revista Ler História.

Resumo:
Como lugar de tensão e de experimentação ou de síntese das evoluções sociais, a cidade da época contemporânea tem sido objecto de inúmeras descrições. Estes textos ou documentos iconográficos encerram o fenómeno urbano numa série de definições ou verdades rígidas e, por vezes, antagónicas. Cada actor tem a sua maneira de descrever e de definir a sua cidade, segundo objectivos e interesses próprios. Como estabelecer ligações entre os discursos dos habitantes, dos pensadores ou urbanistas, das administrações locais ou nacionais, dos artistas, dos viajantes, dos memorialistas, do poder municipal, dos políticos, dos cientistas, etc.? Partindo do princípio que cada descrição é boa ou legítima, no sentido em que testemunha sempre uma posição ou uma escolha na maneira de pensar e de viver a cidade, este painel propõe analisar alguns processos que, em contextos históricos e sociais diferenciados, contribuíram para moldar formas de vida urbana. Por descrição da cidade, entende-se toda a actividade, mais ou menos visível ou assumida, de categorização e de construção de discursos e de saberes sobre a cidade. A operação de descrição vai além da questão da representação e da produção ou da circulação de imagens. São os intercâmbios entre o objecto descrito e o discurso descritivo que têm de ser focados: a invenção de novos objectos; a delimitação de novas formas urbanas; as evoluções nos usos dos espaços; a valorização do papel de actores sociais específicos no desenrolar da vida urbana. O tema deste painel é a descrição como actividade estruturadora do fenómeno urbano.
A ideia é juntar um grupo pluridisciplinar de investigadores que trabalham temas relacionados com história urbana – e mais propriamente com a história da cidade de Lisboa – baseando parte do seu estudo na análise aprofundada de uma documentação homogénea e claramente identificada. A diversidade dos contextos históricos e das situações sociais e culturais pode ser evidenciada tanto no objecto descrito – a cidade – como no modo de produção do documento em questão. Os textos ou documentos seleccionados referem-se a temas bastante variados (o registo da toponímia e da organização formal do espaço urbano; a construção e a difusão de imagens através da olisipografia; o papel social do cinema e das salas de cinema; os planos directores de urbanização) mas, no entanto, dão a ver processos semelhantes: estes discursos sobre a cidade aparecem sempre como tentativas de organização e de apropriação de um fenómeno tão plural e complexo como é o facto urbano na época contemporânea.

O painel é organizado em torno de quatro intervenções que correspondem a quatro tipos de discursos sobre a cidade:

Frédéric Vidal [historiador; pós-doutorando em História; Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa – ISCTE; bolseiro FCT]: A invenção de um olhar e de um instrumento: os roteiros da cidade de Lisboa no início do século XIX.

Graça Índias Cordeiro [antropóloga; professora do Departamento de Antropologia do ISCTE; Centro Investigação e Estudos de Sociologia – ISCTE]: Em busca do pitoresco: paisagens e figuras de Lisboa através da olispografia.

Tiago Baptista [historiador; Investigador da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema]: Os cinemas sem monóculos e lábios pintados. Relatos de sessões de cinema em Lisboa na transição para o sonoro.

João Pedro Nunes [sociólogo; doutorando em Sociologia; Fórum Sociológico da Faculdade Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; bolseiro da FCT]: Uma viagem pelos dormitórios de Lisboa: Entre o Plano Director da Região e as imagens na imprensa (1960-1970).

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